sábado, 19 de setembro de 2009

Alvorecer com Alberto Caeiro



Ontem o pregador de verdades dele

Falou outra vez comigo.

Falou do sofrimento das classes que trabalham.

(Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).



Falou da injustiça de uns terem dinheiro,

e de outros terem fome, que não sei se é fome de comer,

Ou se é só fome da sobremesa alheia.


Falou de tudo quanto pudesse fazê-lo zangar-se.

Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!

Que estúpido se não sabe que a felicidade dos outros é deles.

E não se cura de fora,

Porque sofrer não é ter aros de ferro!



Haver injustiça é como haver morte.

Eu nunca daria um passo para alterar

Aquilo a chamam injustiça do mundo.

Mil passos que desse para isso

Eram só mil passos.


Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda,

E um sobreiro não ter nascido pinheiro ou carvalho.

Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais

Para qual fui injusto eu, que as vou comer a ambas?


(Fernando Pessoa)




Quantas pessoas reclamam da vida sem terem realmente do que reclamar, enquanto outros de fato sofrem e possuem motivos para tanta reclamação mas sempre apresentam um sorriso estampado no rosto e esbanjam alegria ?


Quantas pessoas apontam os erros alheios e esquecem de observar suas próprias falhas ?


Quantas pessoas reclamam dos governantes e tem as mesmas atitudes em suas próprias vidas ?


Quantos de nós assistem ao mundo de seus camarotes e reclamam da injustiça mas não são capazes de enxergar as mazelas por que passam seus próprios empregados, vizinhos e funcionários, ou, ainda pior, perpetuam o ciclo da infelicidade, dos abusos e do descaso ?


O mundo nos fez aceitar a injustiça ?


Li outro dia um comentário que me estarreceu, alguém aconselhava o blogueiro a aceitar a injustiça simplesmente porque um dia ele é quem poderia maltratar alguém...


Será que reclamamos apenas pelo simples hábito de reclamar ?


Um comentário:

Luciana disse...

Profa, naum acho que eh habito, mas cansaço de ver tudo errado.