Ontem o pregador de verdades dele
Falou outra vez comigo.
Falou do sofrimento das classes que trabalham.
(Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).
Falou da injustiça de uns terem dinheiro,
e de outros terem fome, que não sei se é fome de comer,
Ou se é só fome da sobremesa alheia.
Falou de tudo quanto pudesse fazê-lo zangar-se.
Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!
Que estúpido se não sabe que a felicidade dos outros é deles.
E não se cura de fora,
Porque sofrer não é ter aros de ferro!
Haver injustiça é como haver morte.
Eu nunca daria um passo para alterar
Aquilo a chamam injustiça do mundo.
Mil passos que desse para isso
Eram só mil passos.
Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda,
E um sobreiro não ter nascido pinheiro ou carvalho.
Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais
Para qual fui injusto eu, que as vou comer a ambas?
(Fernando Pessoa)
Quantas pessoas reclamam da vida sem terem realmente do que reclamar, enquanto outros de fato sofrem e possuem motivos para tanta reclamação mas sempre apresentam um sorriso estampado no rosto e esbanjam alegria ?
Quantas pessoas apontam os erros alheios e esquecem de observar suas próprias falhas ?
Quantas pessoas reclamam dos governantes e tem as mesmas atitudes em suas próprias vidas ?
Quantos de nós assistem ao mundo de seus camarotes e reclamam da injustiça mas não são capazes de enxergar as mazelas por que passam seus próprios empregados, vizinhos e funcionários, ou, ainda pior, perpetuam o ciclo da infelicidade, dos abusos e do descaso ?
O mundo nos fez aceitar a injustiça ?
Li outro dia um comentário que me estarreceu, alguém aconselhava o blogueiro a aceitar a injustiça simplesmente porque um dia ele é quem poderia maltratar alguém...
Será que reclamamos apenas pelo simples hábito de reclamar ?
Um comentário:
Profa, naum acho que eh habito, mas cansaço de ver tudo errado.
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